O pós-humano incipiente: uma ficção comunicacional da cibercultura
Erick Felinto
No horizonte da chamada “cibercultura”, comunicação e informação constituem, portanto, não apenas dimensões vitais da nossa vida cultural, mas o próprio tecido da realidade em que vivemos. A partir dessa idéia, tudo que nos cerca pode ser conceitualizado como conjuntos de sistemas de informação que se conectam em vastas redes comunicacionais. É nesse sentido que tenho sugerido a hipótese de que as grandes narrativas da cibercultura possam encontrar fundamento em uma fantasia cultural denominável como mito da comunicação total.
Esse mito implica pelo menos três idéias importantes: primeiro, a noção de uma comunicação transparente, imediata, quase como se o meio pudesse evaporar-se dando lugar a formas de conexão diretas e sem ruído.
Em segundo lugar, apresenta-se a fantasia de uma comunidade utópica, perfeitamente integrada e convergente, já que a comunicação total envolve a libertação dos pesados “invólucros materiais” (corpo, sexo, gênero, idade etc.) fora dos quais nossas diferenças não seriam senão superficiais; em “nível de pele”. Finalmente, tem-se a noção de um sujeito tecnologicamente aperfeiçoado, capaz de conectar-se, em rede, a outras subjetividades semelhantes, tirando delas o que lhe falta para alcançar o status de um ser perfeito. É um sujeito paradoxal: individual e singular, ao mesmo tempo em que coletivo e mutável. É uma “inteligência coletiva”, como diria Pierre Lévy (1998). Aliás, não surpreende que Lévy oponha as formas de comunicação tradicionais (midiatizadas) aos novos modos de comunicação integradora e imediata do sujeito tecnologizado do paradigma digital:
Ou superamos um novo limite, uma nova etapa da hominização, inventando algum atributo do humano tão essencial quanto à linguagem, mas em escala superior, ou continuamos a nos “comunicar” por meio da mídia e pensar em instituições separadas umas das outras, que organizam, além disso, o sufocamento e a divisão das inteligências (LÉVY, 1998, p. 16).
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